quarta-feira, 26 de março de 2014

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA PESSOAS COM SURDEZ

Marília Soares de Oliveira


Há séculos as discussões acerca do ensino para pessoas com surdez vem sendo discutido no cenário educativo, onde se questiona as formas e os métodos de trabalho, e ainda assim o trabalho deixa os educandos com potencial pouco desenvolvido e descontextualizado.
Com intuito de superar esta problemática, uma nova política de Educação Especial vem se tecendo no Brasil, mas o processo ainda enfrenta muitos desafios como a mudança de paradigmas e a clarificação das bases epistemológicas, para que as práticas de ensino e aprendizagem, como afirmam Damázio e Ferreira (2010), “apresentem caminhos consistentes e produtivos para a educação de pessoas com surdez”.
Neste sentido, há que se rever o conceito de deficiente empregado para as pessoas com surdez, uma vez que estas não são e sim possuem uma deficiência que limita biologicamente a função perceptiva. Por outro lado, há outras potencialidades a serem desenvolvidas a fim de suprir as necessidades apresentadas por este indivíduo e incluindo-o na sociedade de forma plena e concisa. Dessa forma, cita Hall apud Damázio e Ferreira (2010):

Isso nos faz pensar num sujeito com surdez não reduzido ao chamado mundo surdo, com a identidade e a cultura surda, mas numa pessoa com potencial a ser estimulado e desenvolvido nos aspectos cognitivos, culturais, sociais e linguísticos, pois a concepção de pessoa com surdez descentrada se caracteriza pela diferença, que, sob a força de divisões e antagonismo, leva a pessoa descentrada a ser deslocada e a assumir diferentes posições e identidades”(p.48).


Desta forma, amplia-se a visão da educação pós-moderna, no contexto oralista e gestualista, focando-se no bilinguismo, que neste contexto, será desenvolvido através da LIBRAS e da Língua Portuguesa, ambas ensinadas no contexto escolar respeitando suas especificidades e variantes no que diz respeito a sua construção enquanto língua.
Para tanto, ressignificando este espaço que inclui a pessoa com surdez, o bilinguismo e a educação, propõe o Atendimento Educacional Especializado (AEE) que segundo Damázio e Ferreira (2010), estabelece:

[...] a compreensão e o reconhecimento do potencial e das capacidades desse ser humano, vislumbrando o seu pleno desenvolvimento e aprendizagem. As diferenças desses alunos serão respeitadas, considerando a obrigatoriedade dos dispositivos legais, que determinam o direito de uma educação bilíngue, em Libras e Língua Portuguesa escrita constituem línguas de instrução no desenvolvimento de todos o processo educativo” (p. 52).


Sendo assim, o Atendimento Educacional Especializado (AEE), se fará como uma construção do saber, visto de um ângulo multidisciplinar, onde não haverá a linearidade de conceitos e muito menos sua fragmentação ao longo do processo. O AEE deverá ser realizado a partir de uma ação conectada ao pensar e fazer pedagógico, chegando assim a uma simbiose.
Para tanto, os professores atuantes no AEE, serão peças chaves neste processo, conforme afirma Damázio e Ferreira (2010), o professora adotará os seguintes princípios básicos:

[…] o aluno com surdez pensa, questiona e levanta ideias sobre todas as coisas; ao levantar ideia, entra em conflito com os esquemas anteriores; ao entrar em conflito, busca respostas aos seus questionamentos, visando refutar ou confirmar o que está sendo investigado, estudado; ao descobrir sobre o saber investigado, tem um ato conseguido; esse ato conseguido precisa ser repetido, construindo a aprendizagem significativa; ao aprender o saber, a pessoa com surdez realizará sua aplicabilidade no seu cotidiano de vida” (p.53-54).


Neste contexto, o cidadão com surdez passará a ter acesso a língua e a linguagem, ao pensamento e as formações que provém dele, aos interesses e suas praticas que serão desenvolvidas a partir de suas habilidades e ainda, serão pautados num contexto social, cultural e científico, da humanidade em que está inserido. Só assim, desenvolveremos uma perspectiva inclusiva, onde as barreiras do preconceito são quebradas e as possibilidades sociais e educacionais são ampliadas e atendidas diante de um exercício pleno.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p.46-57.