Marília Soares de
Oliveira
Há
séculos as discussões acerca do ensino para pessoas com surdez vem
sendo discutido no cenário educativo, onde se questiona as formas e
os métodos de trabalho, e ainda assim o trabalho deixa os educandos
com potencial pouco desenvolvido e descontextualizado.
Com
intuito de superar esta problemática, uma nova política de Educação
Especial vem se tecendo no Brasil, mas o processo ainda enfrenta
muitos desafios como a mudança de paradigmas e a clarificação das
bases epistemológicas, para que as práticas de ensino e
aprendizagem, como afirmam Damázio e Ferreira (2010), “apresentem
caminhos consistentes e produtivos para a educação de pessoas com
surdez”.
Neste
sentido, há que se rever o conceito de deficiente empregado para as
pessoas com surdez, uma vez que estas não são e sim possuem uma
deficiência que limita biologicamente a função perceptiva. Por
outro lado, há outras potencialidades a serem desenvolvidas a fim de
suprir as necessidades apresentadas por este indivíduo e incluindo-o
na sociedade de forma plena e concisa. Dessa forma, cita Hall apud
Damázio e Ferreira (2010):
“Isso
nos faz pensar num sujeito com surdez não reduzido ao chamado mundo
surdo, com a identidade e a cultura surda, mas numa pessoa com
potencial a ser estimulado e desenvolvido nos aspectos cognitivos,
culturais, sociais e linguísticos, pois a concepção de pessoa com
surdez descentrada se caracteriza pela diferença, que, sob a força
de divisões e antagonismo, leva a pessoa descentrada a ser deslocada
e a assumir diferentes posições e identidades”(p.48).
Desta
forma, amplia-se a visão da educação pós-moderna, no contexto
oralista e gestualista, focando-se no bilinguismo, que neste
contexto, será desenvolvido através da LIBRAS e da Língua
Portuguesa, ambas ensinadas no contexto escolar respeitando suas
especificidades e variantes no que diz respeito a sua construção
enquanto língua.
Para
tanto, ressignificando este espaço que inclui a pessoa com surdez, o
bilinguismo e a educação, propõe o Atendimento Educacional
Especializado (AEE) que segundo Damázio e Ferreira (2010),
estabelece:
“[...]
a compreensão e o reconhecimento do potencial e das capacidades
desse ser humano, vislumbrando o seu pleno desenvolvimento e
aprendizagem. As diferenças desses alunos serão respeitadas,
considerando a obrigatoriedade dos dispositivos legais, que
determinam o direito de uma educação bilíngue, em Libras e Língua
Portuguesa escrita constituem línguas de instrução no
desenvolvimento de todos o processo educativo” (p. 52).
Sendo
assim, o Atendimento Educacional Especializado (AEE), se fará como
uma construção do saber, visto de um ângulo multidisciplinar, onde
não haverá a linearidade de conceitos e muito menos sua
fragmentação ao longo do processo. O AEE deverá ser realizado a
partir de uma ação conectada ao pensar e fazer pedagógico,
chegando assim a uma simbiose.
Para
tanto, os professores atuantes no AEE, serão peças chaves neste
processo, conforme afirma Damázio e Ferreira (2010), o professora
adotará os seguintes princípios básicos:
“[…]
o aluno com surdez pensa, questiona e levanta ideias sobre todas as
coisas; ao levantar ideia, entra em conflito com os esquemas
anteriores; ao entrar em conflito, busca respostas aos seus
questionamentos, visando refutar ou confirmar o que está sendo
investigado, estudado; ao descobrir sobre o saber investigado, tem um
ato conseguido; esse ato conseguido precisa ser repetido, construindo
a aprendizagem significativa; ao aprender o saber, a pessoa com
surdez realizará sua aplicabilidade no seu cotidiano de vida”
(p.53-54).
Neste
contexto, o cidadão com surdez passará a ter acesso a língua e a
linguagem, ao pensamento e as formações que provém dele, aos
interesses e suas praticas que serão desenvolvidas a partir de suas
habilidades e ainda, serão pautados num contexto social, cultural e
científico, da humanidade em que está inserido. Só assim,
desenvolveremos uma perspectiva inclusiva, onde as barreiras do
preconceito são quebradas e as possibilidades sociais e educacionais
são ampliadas e atendidas diante de um exercício pleno.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
DAMÁZIO,
M. F. M.; FERREIRA, J. Educação
Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado
em Construção.
Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p.46-57.
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